É possível inovar e reter, com poder e controle?
David Braga *
Pessoas, governos e empresas sempre
experimentarão os processos de mudança. Quer queiram, quer não, isso ocorrerá
em algum momento, independentemente da vontade de cada um. No mundo atual,
então, onde falar de um contexto “Vuca” – ou seja, volátil, incerto, complexo e
ambíguo – já é repetitivo, adaptar-se aos novos cenários, com agilidade, é
primordial. Nas corporações, constantemente, surgem metodologias inovadoras,
novas tecnologias, desejos e perfis variados dos colaboradores, além da elevação
da exigência do cliente. Todos esses aspectos demandam uma reinvenção quase
diária, sendo uma tarefa hercúlea dentro das organizações. Então, será que
ainda faz sentido manter gestões baseadas em poder e controle?
Atualmente, atrair os profissionais e selecionar
para contratar os melhores talentos têm sido missões árduas para a maior parte
das empresas. Retê-los é ainda mais difícil e exige muita criatividade e
competência, não apenas da área de Recursos Humanos, como também de todos os
gestores. Além de remuneração, os talentos querem ter voz ativa, participar de
projetos inovadores, desejam ser desafiados constantemente e aspiram trabalhar
com lideranças inspiradoras. Evidentemente, é essencial lembrar que muitos
querem ser donos de suas agendas. Dessa forma, fica praticamente impossível
fazer com que os melhores permaneçam, se a organização quer manter o velho
modelo de trabalho de 8h às 18h, entre outros sistemas enraizados.
É preciso ser genuíno e transpor essa
cultura para um modelo mais moderno, com foco em uma gestão por performance e
humanizada, especialmente porque é inviável ter controle a todo momento dos
colaboradores que seguirão no formato de home
office ou híbrido. Entretanto, não tem sido pequena a lista de
eventos on-line e
presenciais de que tenho participado nos últimos meses, onde a liderança quer
insistir em pensar alternativas para aumentar o controle sobre quem está
trabalhando em casa. Mesmo já sendo mais do que comprovado, inclusive por meio
de diversos estudos, que atuar no “horário comercial” não é sinônimo de
produtividade.
Não à toa, o professor da Louisiana
State University, Leon Megginson, num discurso no ano de 1963, apresentou a sua
interpretação da ideia central de “A Origem das Espécies", de Charles
Darwin, e disse a famosa frase: “Não é o mais forte que sobrevive nem o mais
inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. O período de pandemia
enfrentado por todo o mundo comprovou ainda mais essa máxima, pois todo o
cenário dentro das companhias teve que mudar e se adequar ao contexto para
continuar existindo. O líder foi obrigado a ser mais tecnológico e digital e,
ainda, alterar sua forma de gestão, que passou a ser à distância. Como deixou
de estar próximo a seus liderados durante o dia inteiro, foi necessário, além de
engajar, direcionar e desafiar os profissionais.
Muitas dessas empresas eram céticas
quanto ao modelo home office
e foram forçadas a adotar a modalidade de trabalho remoto, colocando em
“xeque-mate” o poder e o controle, tão comuns em organizações com práticas
menos modernas de gestão. Recorda-se do gestor que, ao longo do dia, queria
saber quando um profissional não estava em sua mesa ou por que tomava tanto
café? Ou que regulava o horário de chegada e saída? Quando abordo poder e
controle, é exatamente sobre isso que estou falando. Esse tipo de gerenciamento
já caiu em desuso há tempos e, no cenário atual, é, inclusive, prejudicial à
corporação.
Usualmente, quem adota esse tipo de
gestão retrógrada são lideranças com baixa autoestima, falta de confiança, além
de ausência de delegação e até de inteligência emocional. O indivíduo que tem
essa postura deve repensá-la o quanto antes, caso, de fato, queira se tornar um
líder relevante e/ou um profissional diferenciado. É praticamente inconcebível
uma empresa que se diz moderna e humanizada ainda aceitar lideranças tóxicas ou
assediosas. Com a diversidade crescente e cada vez mais primordial no ambiente
corporativo, deixar cada um ser como é proporciona, efetivamente,
lucratividade, além de aumentar a retenção dos melhores talentos.
Somado a isso, o cenário clama por
equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com pitadas de felicidade no
trabalho e algumas doses de propósito e legado para estimular os profissionais
naquilo com que trabalham. O mundo também pede leveza, conceito que deve ser
aplicado ao clima organizacional. Além disso, o líder eficiente precisa engajar
os colaboradores, mesmo que em home
office, e estabelecer laços de confiança, para haver conexão e
comprometimento, impactando, diretamente, o faturamento.
Logo, o foco das empresas precisa estar
em levar para os seu quadro de funcionários pessoas que tenham ideias
criativas, simples, ousadas e assertivas. Isso, sim, garantirá a perenidade da
corporação. E, como “escada se lava de cima para baixo”, a urgente mudança do
modelo de controle e poder para uma gestão por performance tem que ser
repensada no alto escalão das organizações, por ser um tema de impacto na
governança corporativa. Mais controle? Mais tecnologia? Para quem quer ter uma
empresa vencedora, a resposta, provavelmente, será mais humanização!
* David Braga é CEO, board advisor e
headhunter da Prime Talent. É também professor convidado da Fundação Dom Cabral
(FDC) e autor do livro “Contratado ou Demitido – só depende de você”. Ele atua,
ainda, como conselheiro da ONG ChildFund e da ACMinas.
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