O futuro a Deus pertence
*Por Luis Otavio Leal
A partir da leitura da Ata da última
reunião do COPOM vamos discutir como os cenários internos e externos podem
influir nas próximas decisões do Banco Central do Brasil, chegando a uma
conclusão que vai, de certo modo, contra o consenso atual.
Se fôssemos dar um título para esse
documento, seria: “Ata dos recados”. O primeiro deles, e talvez o mais
surpreendente, porque não é do feitio do BCB ser tão explícito em comentários
sobre questões políticas, foi dado aos defensores das PECs que visam baixar o
preço dos combustíveis. O BCB diz que a relação custo-benefício da medida é
totalmente desfavorável: como contrapartida a uma redução da inflação no curto
prazo, teríamos impactos de médio e longo prazos que trariam um efeito líquido
negativo para a condução da política monetária.
O segundo “recado” foi para quem não
entendeu que o ajuste deverá ficar acima do cenário de referência, que supõe
que os juros cheguem a 12% a.a. em março, feche 2022 em 11,75% a.a. e caia para
8,00% a.a. ao final de 2023. O terceiro “recado” foi para quem ficou em dúvida
com relação à utilização da expressão “próximos passos” no Comunicado. Era
apenas uma figura de linguagem ou indicava a ideia de que o COPOM iria além de março
com a alta dos juros? Bem, se havia alguma dúvida quanto a isso, a fala
posterior do diretor de política monetária do BCB, Bruno Serra, sobre “pelo
menos duas altas”, serviu para saná-la.
A “Ata dos Recados” também deixou
algumas questões em aberto. A principal delas é se o “ajuste mais
contracionista que o utilizado no cenário de referência ao longo do horizonte
relevante” se refere apenas à taxa máxima a ser alcançada ou à duração do
ciclo, ou a uma combinação linear das duas opções.
Recados dados, recados entendidos, a
partir apenas das indicações da Ata, a conclusão a que podemos chegar é que os
juros terão que subir mais do que 12,00% a.a. e que a última elevação não será
na reunião de março. Juntando essas informações parece que o “plano de voo” atual
do BCB seria um aumento de 1,00 p.p. na reunião de março e outro de 0,50 p.p.
na de maio, encerrando o atual ciclo com a taxa em 12,25% a.a. Entretanto,
apesar de todas essas evidências, mantemos a nossa projeção de Selic terminal
em 11,75% a.a., vamos entender o porquê.
O mercado seguramente está certo em
precificar que, neste momento, a estratégia do BCB é de elevar os juros até,
pelo menos, 12,25% a.a. Entretanto, se tem uma coisa que aprendemos desde o
início dessa pandemia é que três meses são uma eternidade em termos de cenário.
Basta lembrar que, em meados de dezembro de 2021, após a divulgação de um
número horroroso de Produção Industrial e de uma surpresa positiva com o
IPCA-15, o mercado chegou a colocar em dúvida a necessidade de dar 1,50 p.p. na
reunião do Copom de fevereiro deste ano. Por acreditarmos que essa combinação
poderá ocorrer novamente antes da reunião de maio e que, o início do processo
de elevação dos juros nos EUA pode ajudar no trabalho do BCB de conter a
inflação por aqui, mantemos a nossa projeção de 11,75% a.a. para o final do
atual ciclo de alta dos juros, apesar de haver claramente um viés de alta para
ela.
*Luis Otavio Leal é economista-chefe do Banco Alfa
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