Análise de dados pode ser o caminho para a oferta de crédito a PMEs
*Por Thiago Saldanha
Muitas vezes contratar
crédito é algo burocrático e desafiador, principalmente em um mercado cada vez
mais competitivo, no qual os empreendedores e empresários precisam
constantemente partir para linhas de financiamento e estar atento à saúde
financeira do seu negócio.
Podemos observar que no cenário atual, as pequenas e médias empresas são as que
mais têm dificuldades em conseguir ter acesso ao crédito no mercado e tem
encontrado barreiras. Segundo uma pesquisa realizada pela McKinsey, empresa de
consultoria empresarial americana, junto com as principais instituições
financeiras em 2021, apenas 9% de crédito foi destinado às PMEs, grupo este que
corresponde por quase 30% do PIB e por mais de 50% de geração de emprego com
carteira assinada no Brasil.
O principal motivo desse descompasso está na dificuldade em realizar uma
análise do risco eficaz desse grupo, mas que representa um grande potencial de
crescimento e tem chamado atenção de empresas de diversos segmentos, mas
principalmente dos bancos tradicionais e das fintechs. O mercado, de modo geral,
está bastante otimista, tanto é que para este ano, segundo Paulo Guedes, será
lançado um novo programa de crédito voltado para as PMEs. A estimativa é que
sejam liberados R$ 100 bilhões em um plano que será voltado a empresas que vão
de MEI (Microempreendedor Individual) a empresas de médio porte, com
faturamento de até R$ 300 milhões por ano.
Esse projeto teria uma influência positiva sobre o mercado como um todo, porém,
o retorno desses projetos seriam ainda maiores se tivessem um elemento de
sustentabilidade. Vale lembrar que no mercado existem alguns gargalos e
obstáculos que não beneficiam essas empresas. Atualmente, a análise de crédito
de PMEs é feita basicamente pela consulta ao score
de determinada empresa em birôs de crédito ou por meio de análise das
demonstrações financeiras dessas empresas - o que nem sempre oferece dados
precisos e em tempo real.
Este cenário mostra uma luz no fim do
túnel para muitas empresas que não têm conseguido crédito no mercado. Em
contrapartida, ao meu ver, a questão não é apenas dar acesso a mais crédito a
elas, mas de utilizar uma tecnologia que seja capaz de realizar um
acompanhamento mais preciso de todas as informações e o histórico de transações
e pagamentos das PMES em tempo real. Desta forma, é possível converter diversos
indicadores que resultará em um score
muito mais preciso do solicitante, facilitando assim a contratação
de uma linha de crédito.
Vale lembrar que, a realidade da análise
de crédito nos países desenvolvidos é completamente diferente do que no Brasil.
Não só porque as informações positivas já estão amplamente disseminadas pelos
birôs de crédito, mas também devido aos avanços na área de analytics. O FICO
Score, empresa de analytics e não um fornecedor de dados, é uma das principais
empresas utilizadas por credores nos Estados Unidos para ajudar a tomar
decisões de risco de crédito, de forma rápida e 100% confiável. Para superar o
baseline/benchmarking da FICO, as fintechs e bancos americanos precisam
trabalhar com muitos dados alternativos.
Já aqui no Brasil, o mesmo não acontece,
temos um cenário de muita oportunidade para que sejam criadas soluções que
ofereçam o mesmo mecanismo dos países desenvolvidos. A CashU, por exemplo, pode
ser considerada a única empresa brasileira a conseguir oferecer uma análise
similar às empresas americanas e a única disponível no mercado brasileiro, pois
permite um resultado três
vezes superior ao dos birôs de crédito tradicionais. A fintech
oerece uma modelagem matemática de crédito robusta que, assim como
aquelas usadas pelas principais fintechs do mundo, é baseada em machine
learning e se conecta com os sistemas de gestão de grandes empresas B2B para
consumir o histórico de transação e pagamento dos seus clientes PMEs em tempo
real.
A verdade é que é necessário oferecer
novas formas de crédito para as pequenas e médias empresas, principalmente para
minimizar os danos causados e aumentar o acesso ao crédito de PMEs que atuam em
diversos segmentos. Na prática, as grandes empresas B2B têm à sua
disposição apenas a antecipação de recebíveis de cartão de crédito e as
inovações tecnológicas. Por meio de ferramentas especializadas é possível
consolidar todos dados e histórico completo aplicando uma inteligência no
cruzamento de informações, o que permite trazer recomendações mais assertivas
para as negociações.
Por fim, tenho visto toda a movimentação
de transformação digital e fintechzação das empresas de grandes portes,
principalmente das indústrias e distribuidores. Mesmo que de forma tímida, elas
estão percebendo que possuem dados que explicam o comportamento de suas bases
de clientes melhor que dados de birôs de crédito e, em alguns casos, até mesmo
que os bancos. Consequentemente a isso, essas empresas estão embutindo em seus
produtos tradicionais uma camada de produtos financeiros que vão desde
pagamentos, contas bancárias até cartões de crédito. Exemplos desses movimentos
são a compra do Hub Fintech pela Magalu e do Zoop pela Movile.
Essa é uma movimentação que veio para
ficar com a digitalização do mercado B2B, os processos manuais, de forma
demorada, não servem mais e cada vez mais é preciso propor a otimização da
rotina financeira dessas empresas, além de conseguir mostrar valor de
forma mensurável em pouco tempo de uso. Qualquer indústria, já pode oferecer
crédito para as PMEs que têm como cliente, que até então não foram aprovadas
por uma análise de crédito tradicional.
*Thiago Saldanha é empreendedor em série, CEO e fundador da CashU, plataforma que oferece solução de crédito para sustentar o crescimento de indústrias e distribuidores
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