Avançando rumo à omnicanalidade analítica
*Por Cristian Figueroa
O avanço e aceleração digital são uma
realidade em todos os setores após o surgimento da pandemia, e empresas de
varejo e bens de consumo não são exceção. Nas linhas a seguir, trago algumas
reflexões sobre esta dinâmica neste segmento e o papel de advanced analytics na
transformação de empresas que buscam atender às novas demandas trazidas pela
Covid-19 com a abordagem de omnicanalidade.
O ano de 2020 transformou padrões de
compra, trazendo o imediatismo de consumidores cada vez mais empoderados e
informados, que priorizam interações via smartphone. Por outro lado, companhias
passaram a ter que remediar suas lacunas tecnológicas para responder aos
anseios de seus clientes, oferecendo uma experiência superior através de seus
diversos canais digitais, mantendo sua eficiência operacional e a
rentabilidade.
O cenário descrito acima certamente é
familiar para a maioria dos leitores, mas a jornada para as companhias que
atravessam essas mudanças não é tão óbvia quanto parece. Ao interagir com
empresas varejistas ou do segmento de bens de consumo, percebo algumas áreas
problemáticas, que acabam por impedir o progresso necessário para atender às
novas demandas digitais com uma estratégia orientada por dados.
Entre os grandes entraves que observo
nessas empresas está o uso massivo de planilhas nas várias áreas de negócio,
desconsiderando o risco operacional associado. Além disso, vejo uma falta de
estratégias claras e robustas em iniciativas de transformação digital, que
guiam os passos e que antecipem fenômenos nos processos-chave do negócio.
Neste sentido, me parece que o analytics
ainda não faz parte deste cenário. Isso fica evidente nas deficiências que são
geradas em vários processos até a entrega final de um produto quando as
técnicas de análise preditiva de dados, também chamadas de aprendizado de
máquina/machine learning e inteligência artificial, não são utilizadas.
Dentre os processos deficientes que
observo em varejistas e empresas de bens de consumo que carecem de uma
sofisticação analítica, cito aqui a diminuição do capital de giro e a
ineficiência nos estoques de baixo giro (previsão) para compras eficientes; a
baixa disponibilidade de produtos para a experiência do cliente; a análise
deficiente de promoções, além de uma dificuldade na atualização de clusters e
segmentação de mercado para a correta definição do mix e sortimentos. Além
disso, existem desafios na determinação do cross selling, que define os
cruzamentos e complementos de produtos associados às compras, e na determinação
de preços dinâmicos.
A esta altura, uma boa pergunta seria:
como estes problemas podem ser resolvidos, ou evitados? Acredito que a resposta
parte da motivação da transformação digital, ou omnicanalidade operacional:
estes processos devem ser implementados tendo em vista o uso prático de
analytics, que incorpora ferramentas de big data, incluindo dados de clientes,
comportamento de demanda e localização, bem como as informações dos produtos
que são adquiridas através dos diferentes canais.
Um esquema como o descrito acima pode
fornecer aos varejistas descobertas e insights preditivos sobre as preferências
e gostos do cliente ao longo de sua jornada, independentemente dos canais de
compra. Torna-se possível usar essas informações para melhorar as campanhas de
marketing, tomar decisões com foco no cliente e na gestão da mercadoria ao
longo de seu ciclo, bem como na distribuição do produto e nas operações
realizadas em todos os canais de negócio da cadeia de abastecimento. Isso
também traz a possibilidade de obtenção de maior lucratividade, menores custos
de estoque e maior satisfação e fidelidade por parte do consumidor.
Para ilustrar este processo, trago um
exemplo de um varejista com foco em vestuário que implementou uma solução de
sortimento centrada no cliente para melhorar a experiência omnicanal e
impulsionar o desempenho financeiro, melhorando o processo de merchandising. Com
a criação de sortimentos localizados usando machine learning foi possível
endereçar melhorias na precisão do planejamento de vendas de forma hierárquica
e uma otimização matemática dos investimentos em estoque. Com estas mudanças, a
companhia obteve um crescimento de 1% no preço médio: isso significou um
aumento de, pelo menos, US$ 3 milhões no faturamento anual.
Este case, no entanto, é um destaque de
um rol seleto de empresas que buscam vantagem competitiva através de
estratégias de transformação digital em que dados são um pilar central. O
desafio para avançar nesta frente é significativo: a inércia existente nos
processos internos de grande parte das organizações faz com que, na maioria das
vezes, a inovação e a adoção não ocorram no tempo e forma necessários. Porém,
nos dias atuais, e muito mais do que antes, a digitalização impulsiona a
importância dos dados. Portanto, é imprescindível unir estes dois
elementos.
*Cristian Figueroa, diretor de varejo e bens de consumo do SAS para América Latina
Nenhum comentário