Os empregados estão no controle do negócio
Por Mariane Guerra*
No clássico livro de Lewis Carroll,
Alice no País das Maravilhas, há uma passagem ainda mais clássica. Se dá quando
Alice questiona o Gato de Cheshire sobre que caminho deve tomar, já que ela diz
não saber para onde ir. O felino, com toda a sabedoria de sua raça, vaticina:
“Qualquer caminho serve quando não se sabe para onde ir”.
Esse conselho faz muito sentido no mundo
do trabalho atualmente. As pessoas – digo, a média da população ocupada –
possuem um plano de carreira, mesmo que apenas rascunhado no papel ou esboçado
na cabeça? Algo simples: “hoje trabalho na empresa x, no departamento y. Daqui
a cinco anos, quero chegar a diretor do meu departamento. Para isso, entendo
que preciso me qualificar nas disciplinas a e b, além de melhorar meus
resultados nas áreas c e d.”.
Parece algo bobo, mas não é. Quem não
sabe aonde quer chegar não busca as ferramentas para se aperfeiçoar. Segue
somente o ritmo dos acontecimentos. É muito importante que o executivo reflita
sobre seu futuro corporativo, sob pena de ver sua carreira ser definida por
terceiros, não por suas próprias escolhas.
Um alento veio da mais recente pesquisa
People at Work 2022: A Global Workforce View, conduzida pelo ADP Research
Institute. De acordo com o levantamento, que ouviu cerca de 33 mil
trabalhadores, em 17 países, incluindo o Brasil, os profissionais estão cada
dia mais alinhados às necessidades do mercado de trabalho. São pessoas que
compreendem as mudanças e, na medida do possível, tentam se antecipar sobre o
que pode estar fazendo mais ou menos sentido no ambiente corporativo.
De acordo com o levantamento, quatro em
cada cinco entrevistados brasileiros (81%) consideraram realizar migração de
carreira nos últimos 12 meses. Ou seja, a pessoa que percebeu esse movimento e
iniciou sua migração de forma precoce teve uma vantagem sobre aqueles que
demoraram mais para perceber tais mudanças.
O empreendedorismo nunca esteve tão na cabeça dos profissionais como agora, no
pós-pandemia de Covid-19. Isso se deve, entre outros motivos, à percepção que o
home office trouxe, de que a tecnologia pode ser utilizada a nosso favor, das
mais diferentes formas. Para isso, nada mais óbvio do que buscar inovações,
sejam elas instrumentais ou disruptivas.
A pandemia gerou uma oportunidade para as pessoas repensarem muito a vida, como
um todo. Creio que momentos de ruptura como o que enfrentamos nos últimos dois
anos provocam tais reflexões. “O que é mais importante para mim” resume bem
este momento. É preciso que o empregado reflita muito sobre esse ponto. É
importante ter isso em mente, não só para buscar atingir e superar as metas que
todos temos diariamente, mas principalmente para saber o seu valor dentro da
empresa. Lembra-se da pergunta da Alice?
O profissional nunca esteve tão no
controle de sua carreira como em 2022. É ele quem passou a ditar o ritmo da
inovação na empresa, na medida em que também é consumidor dessas ou de outras
soluções. Como ressaltado na People at Work 2022, é ele quem define onde e
quando trabalhar. Se não estiver feliz no ambiente corporativo, nada o impedirá
de abrir seu negócio ou mesmo de buscar a satisfação em outra companhia ou área
de atuação.
Vale destacar que a história de Alice
termina com uma ordem da Rainha para que a decapitem, por ela não concordar com
os rumos que a tirana está dando ao seu reino. Um exercício simples: na frase
anterior, substitua as palavras “rainha”’, “decapitem”’ e “reino”’ por
“gestor/gestora”’, “demitam”’ e “empresa”’. Ou seja, se o empregado não
concorda com os rumos que a alta diretoria quer dar à empresa, seu lugar não é
mais ali. Faz sentido para você? Saiba que, para quatro em cada cinco
brasileiros, faz muito sentido.
*Mariane Guerra é vice-presidente de RH para a América Latina da ADP
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