Portador de AME, “Machadinho” vira símbolo de luta à acessibilidade dos games no Brasil
Influencer da TropiCaos supera cirurgia de
risco na infância, se torna referência no universo gamer e sonha com maior
acessibilidade para os PCDs
São
Paulo, outubro de 2022 - O universo gamer é uma das áreas
que mais vem crescendo nos últimos anos e concomitantemente a isso, também é
responsável por inúmeros avanços em torno da busca pela diversidade. O setor
está proporcionando cada vez mais pluralidade e inclusão, com a visão de
atração de novos jogadores. No entanto, ainda existem inúmeras barreiras.
Um estudo
recente da Royal National Institute of Blind People (RNIB) de julho deste ano,
mapeou que entre os cerca de 500 entrevistados, mais de 70% acreditavam que os
videogames ainda não tinham recursos de acessibilidade suficientes e embora
haja uma movimentação de empresas e da indústria como um todo na melhoria de
serviços quanto ao seu uso, ainda há muitas dificuldades, tanto em relação à
introdução aos jogos quanto a prática diária para os PCD (Pessoas com
Deficiência).
Existem
poucas pessoas que conseguem furar essa “bolha” e uma delas é Gabriel Machado
Cabral, o "Machadinho'', influencer de 22 anos e produtor de conteúdo da
TropiCaos, organização de esportes eletrônicos e entretenimento. Aos 2 anos de
idade foi diagnosticado com Amiotrofia Muscular Espinhal (AME), uma doença
degenerativa que afeta principalmente os braços, as pernas e a coluna e aos 6
anos passou por uma cirurgia de escoliose, por possuir muitas dores na espinha
dorsal. Entretanto, o procedimento deu errado quase culminando em sua morte. “A
barra de ferro perfurou minhas costas, ficou bem exposta. Foi uma época difícil
para minha família. Se não me engano, também atingiu gravemente um dos meus
pulmões”, conta.
O
“start” nos games
Recuperado
física e psicologicamente do trauma, Machadinho encontrou apoio nos videogames.
Segundo ele, o universo digital tornou-se uma “válvula de escape'' por conta da
falta de acessibilidade nas ruas e pelas dificuldades logísticas do dia a dia.
Influenciado em grande parte pelo seu irmão mais velho, que trazia seus amigos
para jogarem em casa, Gabriel foi criando uma relação cada vez mais íntima e
afetiva com os jogos.
Em 2014,
participou de uma competição de bocha adaptada, onde disputou a seletivo nível
escolar do Estado de São Paulo, ficando em 1º lugar e depois, foi classificado
para as Paraolimpíadas Escolares, na qual alcançou a 3ª posição em nível
nacional. Com a conquista, Gabriel recebeu uma bolsa atleta, na qual rendia
aproximadamente uns 450 reais por mês, valor que utilizou para comprar o seu
primeiro computador por 4 mil reais em 2017.
Desde
então, o jovem vem se dedicando a criar conteúdo gamer, sempre trazendo um
espectro de proporcionar uma visão mais analítica e crítica sobre a
acessibilidade. Com passagem pela Detona, Machadinho se tornou referência como
streamer, até que em agosto de 2021, recebeu convite do João Gabriel (Jotinha),
Diretor Esportivo da TropiCaos para se tornar o novo membro da equipe. A sua
primeira iniciativa como parte da organização foi a divulgação promocional da
equipe de Rainbow Six City, realizada na Max Arena, na Mooca. “Conheci a parte
da infraestrutura e tivemos uma reunião, na qual foi me apresentado todo o
staff, com isso pude ter um primeiro contato com pessoas que ainda não tinha
visto pessoalmente. Foi muito gratificante perceber o enorme esforço que
fizeram para me ter. Desde o início me senti acolhido, a TropiCaos tinha um
plano de carreira muito interessante para mim e para a comunidade PCD como um
todo", relata.
Nada
de game over
Embora
tenha se tornado rapidamente uma referência do universo dos games e conquistado
muito público através do seu carisma, Machadinho ainda recebe injúrias por
conta da sua deficiência, o que resultou em uma crise de Síndrome de Burnout. Para superar esse momento difícil, o jovem conta
que encontrou suporte em sua família, amigos e na TropiCaos que foram
fundamentais para que passasse por esse momento turbulento e retomasse o gosto
pelos esportes eletrônicos.
“De volta ao jogo”, Machadinho agora faz planos ainda mais
ousados. Seu maior objetivo atualmente é que as pessoas com deficiência façam
cada vez mais parte dos eSports. Para isso, ele planeja fazer campeonatos
voltados para esse público e criar campanhas que pressionem as grandes corporações
a focar seus esforços na construção desse cenário. “Ser gamer basta se
conectar, seja para competir ou jogar casualmente, fazer amizades, contar e
desbravar histórias, criar marcos, quebrar recordes! Você não precisa ser bom
para ser considerado gamer, basta apenas jogar, jogar com amor”, conclui.
Apesar de ser reconhecido em diversos eventos, como a própria
BGS e já ter conquistado uma legião de fãs, Machadinho não gosta de pensar ser
uma inspiração para outros jogadores que possuem suas mesmas dificuldades, mas
mais um apoiador da causa que luta incessantemente pelo direito à igualdade de
oportunidades para os PCDs. Quanto ao futuro, o jovem reforça que é importante
lutar pelos seus sonhos e jamais desistir diante das adversidades. “Se ouvisse
muitas pessoas nunca estaria onde estou hoje. No início tudo parece difícil,
mas com perseverança uma hora as coisas acontecem”, finaliza.
Sobre
a TropiCaos
A TropiCaos é uma organização de eSportes
eletrônicos e entretenimento que exalta a cultura brasileira no ecossistema
gamer, com o objetivo de gerar uma força transformadora no segmento. Criada em
2021, a equipe atua nas categorias de Free Fire, Rainbow 6, CS e Valorant,
tanto com times masculinos, como femininos. Além disso, a marca é a primeira da
América Latina a metrificar seus ativos digitais no universo do eSports.
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