Últimas

A nutrição nos dias de hoje

Quem se preocupa em comer bem fica aturdido com as orientações que variam de acordo com a moda. A especialista da Unimed-BH esclarece dúvidas de quem quer garantir uma vida mais saudável.


No passado, quando se tratava de alimentação saudável, as coisas pareciam mais fáceis. Todos faziam as refeições em casa, as crianças comiam os alimentos que os pais escolhiam e preparavam e ninguém contestava o cardápio que seguia as normas ditadas pela tradição familiar. As dietas passavam de geração para geração e os casos de obesidade eram poucos.

Hoje, a confusão está instalada. Quem se preocupa em comer alimentos saudáveis fica aturdido com as orientações que variam de acordo com a moda. De repente, aparece uma dieta que proíbe a ingestão de carne vermelha, porque é um veneno para a saúde. Logo a seguir, surge outra que recomenda não só a carne vermelha, mas também a gordura, dizendo que os carboidratos são os grandes vilões, porque elevam os níveis de colesterol e engordam. Não tarda a aparecer uma terceira, que contradiz as duas anteriores e, no final, as pessoas não sabem mais o que devem comer.

A escolha de alimentos inadequados para compor a dieta é responsável pela obesidade que vem acometendo, especialmente, as pessoas que vivem nas grandes cidades.

No dia 31 de agosto, em que se comemora o Dia do Nutricionista, Sheyla Ferreira, especialista em Reeducação Alimentar da Unimed-BH, esclarece as principais dúvidas de quem quer garantir acesso ao alimento seguro e assim a uma vida mais saudável.

Você concorda que a profusão de dietas que existe atualmente deixa as pessoas confusas?

Certamente. Dietas da moda, a rigor, fazem restrição a algum grupo alimentar. Salvo casos específicos, restrição a algum grupo alimentar não vai ao encontro das premissas de uma alimentação saudável e equilibrada.

De acordo com os padrões atuais, a dieta do passado era pouco saudável. As pessoas cozinhavam com banha, punham linguiça no feijão e comiam carne vermelha sem nenhum remorso. Isso para não falar do torresminho e das frituras (batata frita era servida em quase todas as refeições). Entretanto, por paradoxal que possa parecer, as pessoas não engordavam. Por que, apesar de todos os cuidados, o número de obesos está aumentando atualmente?

Segundo pesquisas, a explicação pode estar na qualidade do consumo alimentar atual. A POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) mostrou que as famílias estão gradualmente substituindo a alimentação tradicional na dieta do brasileiro - arroz, feijão, frutas e hortaliças in natura - por alimentos ultraprocessados, que favorecem o consumo excessivo de calorias, como por exemplo, bebidas açucaradas, produtos congelados prontos para o consumo, vários tipos de biscoitos, produtos desidratados (mistura para bolo, sopas em pó, macarrão instantâneo), cereais matinais açucarados, salgadinhos de pacote e guloseimas em geral. Os principais ingredientes dos alimentos ultraprocessados fazem com que eles sejam ricos em gorduras e açúcares, bem como fazem com que sejam pobres em vitaminas, minerais e outras substâncias com atividade biológica e que estão presentes em alimentos in natura.

Assim, em resumo, quando consumimos alimentos ultraprocessados, tendemos, sem perceber, a ingerir mais calorias que necessitamos. Calorias ingeridas e não gastas inevitavelmente acabam estocadas na forma de gordura. O resultado é a obesidade.

O problema da obesidade está distribuído homogeneamente pelo País ou concentra-se em determinadas regiões?

Pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde neste ano revela que o índice de brasileiros acima do peso segue em crescimento no país - mais da metade de população está nesta categoria (52,5%) e destes, 17,9% são obesos, fatia que se manteve estável nos últimos anos. Os números são da pesquisa Vigitel 2014 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), que coletou informações nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Foram realizadas 41 mil entrevistas para o levantamento.

O mapa da obesidade no Brasil mostra-se difuso e não está concentrado nas áreas mais desenvolvidas. São Luís é a capital com menor índice de adultos com excesso de peso (46%) e Manaus, o maior (56%). Já os adultos com menor índice de obesidade estão concentrados em Florianópolis (14%), enquanto Campo Grande lidera, com 22%. Em São Paulo, a proporção de obesos é de 15,5%, no Rio de Janeiro o percentual é de 16,5% e, no Distrito Federal, os obesos representam 15% da população.

Segundo os dados levantados pelo IBGE, a obesidade cresce mais rapidamente na faixa mais pobre da população. Quando se leva em conta o custo dos alimentos é fácil entender por que isso acontece. Mais dinheiro garante acesso a alimentos menos calóricos (que não são baratos), como leite e iogurtes desnatados, queijos e carnes mais magras, saladas e frutas. Os menos abonados, quando têm fome, recorrem a alimentos de menor preço, mas com excesso de calorias, como a gordura e o açúcar. Um sanduíche feito com um pedaço de pão e uma salsicha, acompanhado de um refrigerante popular, é mais barato do que um lanche que leva queijo menos calórico e peito de peru. Como resolver esse problema?

Penso que o critério de escolha dos alimentos também passa pela praticidade e não só pelo preço. Daí, novamente, vemos o crescimento dos alimentos ultraprocessados como opção para as famílias brasileiras. Sabemos que legumes e frutas são caros, sobretudo, se analisarmos que moramos em um país tropical e com diversidade privilegiada. Porém, servir uma salada com um corte de carne magra ou até mesmo um ovo cozido para o jantar requer mais tempo de preparo que o exemplo do pão com salsicha, comida congelada ou macarrão instantâneo.

O Ministério da Saúde, em 2014, publicou o novo “Guia Alimentar para a População Brasileira”. O material está disponível pela internet e pode ser uma importante ferramenta de aprendizado. Além disso, o nutricionista é o profissional capacitado para planejar junto ao paciente um cardápio equilibrado, acessível e segundo sua condição socioeconômica.

Atualmente, existem muitas opções de óleo no mercado. Qual o critério de escolha que deve orientar a compra desse produto?

Cada tipo de óleo tem sua particularidade, portanto a alternância do uso entre eles nos parece razoável. Eis os exemplos:

Óleo de soja - Rico em gorduras poli-insaturadas ômega 3 e ômega 6. Tem como ponto positivo o custo-benefício, sendo o óleo mais em conta. Pode ser aquecido até 180ºC sem perder as propriedades.

Óleo de Girassol - Contem ômega 6 e 9 porém em pequenas quantidades. Rico em vitamina E, que é considerada um poderoso antioxidante . Mais resistente do que os outros óleos, pode ser aquecido até 200ºC.

Óleo de Canola - Óleo conhecido como monoinsaturado, decorrente do alto teor deste tipo de gordura. Tem ótima relação ômega 3 e 6 . Pode ser aquecida até 180ºC.

Azeite de Oliva – Também se trata de óleo monoinsaturado, seu consumo de forma moderada ajuda a manter o colesterol total dentro dos níveis normais e aumenta os níveis do colesterol bom - HDL. Além disto, é rico em vitamina E. Por não ser refinado tem mais compostos bioativos que possuem atividade antioxidante. A diferença entre o azeite e o azeite extra virgem é a acidez de cada um, quanto menor a acidez maior a pureza do produto. O extra virgem é menos ácido e é recomendado utilizar na forma crua, como em temperos de salada.

Usar manteiga é melhor do que usar óleo nas frituras?

Como a manteiga é fonte de gorduras saturadas e colesterol, é mais adequado que as frituras sejam feitas com óleo de soja, canola, milho e girassol .

Há quatro anos, a revista Science publicou uma revisão bastante completa sobre o consumo de carne vermelha, concluindo o oposto do que se acreditava nos anos de 1970, 1980. Segundo o autor do artigo, não há nenhum trabalho científico provando que quem come carne vermelha está mais sujeito a doenças cardiovasculares, infartos do miocárdio ou derrames cerebrais. Como os nutricionistas veem o consumo de carne vermelha?

As carnes vermelhas são excelentes fontes de proteínas de alta qualidade e têm teor elevado de muitos micronutrientes especialmente ferro, zinco e vitamina B12. Porém, tendem a ser ricas em gorduras, sobretudo, saturadas. Não há contra indicação do consumo de carnes vermelhas, desde que estejamos atentos a quantidade de carne que consumimos, bem como ao seu preparo. Tanto melhor, se optarmos por preparações grelhadas, cozidas ou assadas. Além das carnes vermelhas, não devemos nos esquecer do frango e dos pescados.

Qual seria a dieta saudável para evitar a obesidade?

O Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014 cita os passos para uma alimentação adequada e saudável, a saber:

1) Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
2) Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao criar preparações culinárias;
3) Limitar o consumo de alimentos processados e ultraprocessados;
4) Comer com regularidade , devagar e desfrutando o que está comendo;
5) Fazer compras em lugares que ofertem variedades de alimentos in natura;
6) Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias;
7) Planejar o uso do tempo para dar a alimentação o espaço que ela merece;
8) Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora. Evitar redes de fast foods;
9) Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais;

Contudo, a prevenção da obesidade e de doenças crônicas se vale da combinação alimentação adequada e prática de exercícios físicos.

As diferenças individuais atrapalham. Normalmente, as orientações que a população recebe são gerais, embora cada organismo se comporte de maneira diferente. Há os magros de ruins, que comem muito e não engordam, e os gordinhos que aumentam logo de peso. Como agir?

Há muitas informações sobre alimentação e saúde, mas nem todas são fontes confiáveis. O nutricionista é o profissional capacitado para ajudá-lo a construir mudanças no padrão alimentar baseados em cada individualidade (idade, sexo, padrão de exercícios físicos e preferências alimentares). As diretrizes da alimentação saudável se aplicam a todos.

Quando os cuidados com a alimentação deveriam ser ensinados às crianças?

A educação nutricional começa com o exemplo em casa. Pais que se alimentam bem do ponto de vista qualitativo, que primam pela variedade e equilíbrio tendem a ter filhos que repetem o mesmo padrão alimentar.

Em determinada faixa etária, é normal que a criança recuse alguns alimentos, sobretudo os introduzidos recentemente. Aos pais, cabe oferecê-los outras vezes e/ou servi-los juntamente com algum alimento de preferência da criança.

Você diz que os cuidados com a alimentação devem começar na infância, mas tem criança que se recusa terminantemente a comer saladas. Quanto tempo a mãe deve insistir em oferecer-lhe esse tipo de alimento?

Não há uma regra que nos diga o tempo. Há autores que citam oferecer o alimento 8 ou 10 vezes. Mas aqui, continuo advogando em favor do bom senso. Temos preferência alimentares e estas devem ser respeitadas. Se por ventura a criança não come vegetal folhoso, cabe aos pais incitar o consumo e juntos descobrirem algum que lhe agrade. O processo de introdução de novos alimentos é contínuo.

Você poderia dar uma visão geral dos serviços que a Unimed-BH oferece em termos de alimentação saudável?

A Unimed-BH oferece programas de educação com acompanhamento nutricional aos seus clientes. No Grupo Cozinha Experimental, temos a teoria da alimentação saudável colocada na prática, com temas variados e receitas saborosas, orientadas por nutricionista. Já no Grupo de Reeducação Alimentar Adulto e Infantil, são disponibilizadas orientações nutricionais e psicológicas esclarecedoras para mudanças de hábitos alimentares e de vida.

A participação é aberta a todos os clientes, sem qualquer cobrança de coparticipação. A programação pode ser vista no site www.unimedbh.com.br ou no 4020-4020, por meio do qual você também pode fazer a sua inscrição.

Nenhum comentário