Com alta da pandemia, empresas mudam estratégias de retorno presencial aos escritórios e mantém profissionais no home office
Muitas organizações tinham planos de retomar o
trabalho presencial ou mesmo híbrido, mas decidiram manter por enquanto o home
office
Luciana Lopardo, Diretora de RH da MDS Brasil
A pandemia acelerou em
2022 e, com isso, o cenário de incertezas é cada vez mais presente e está
ocupando um espaço gigante na forma de gerenciar as empresas. Os profissionais
de RH estão aprendendo na marra a lidar com o novo que agora é costumeiro. É o
que Paulo Sardinha, presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos
Humanos) Brasil, sinaliza.
“Nós temos que lidar
com o possível fim da pandemia no futuro e também a sua atual expansão e seus
diferentes impactos no dia a dia e também no ambiente corporativo. Na vida, a
gente até tenta prever as coisas. Tentamos prever, por exemplo, se irá ou não
chover no dia seguinte. Não é uma adivinhação, é se planejar, caso aconteça. É
exatamente o que o mundo empresarial está tentando fazer”.
Paulo explica que há
três raciocínios possíveis nesse caso: tentar prever, se planejar e se preparar
para o que possa acontecer. “As organizações se planejaram para voltar ao
trabalho da maneira x ou y, sobretudo a partir de janeiro, seguindo os
protocolos de segurança, mas estar preparado com planos B e C é fundamental,
pois estamos em uma vivência de incerteza”.
É o que o Banco Toyota
do Brasil, por exemplo, está vivendo. A instituição adotou o home office em
março de 2020 e, no dia 6 de dezembro de 2021, criou uma política de modelo
híbrido, na qual os colaboradores deveriam trabalhar apenas oito dias por mês
presencialmente. O banco decidiu, oficialmente, adotar o modelo híbrido de
trabalho. A recomendação geral era que, diariamente, as equipes não ocupassem
mais de 50% da capacidade total do escritório, que é de 145 postos.
Os oito dias eram
controlados por um novo aplicativo, chamado “Desk4Me”, criado especialmente
para esta finalidade no ano passado. O colaborador podia acessar o app pelo
celular e reservar um lugar para trabalhar na data desejada. Ao chegar ao local
de trabalho, é possível realizar uma espécie de check-in, confirmando sua
chegada por meio de um QR CODE disponível na bancada.
“Estávamos começando a
testar o modelo híbrido, mas sempre deixamos claro que é uma política que,
conforme as necessidades, será rediscutida e faremos alterações”, explica Maria
Teresa Bertoldi, superintendente de Recursos Humanos do Banco Toyota.
Mas a estratégia durou
pouco tempo diante do avanço da pandemia. O modelo híbrido foi encerrado no dia
24 de dezembro e todos os cerca de 180 funcionários da empresa voltaram ao home
office todos os dias. “Estamos sempre bastante ligados nas informações e temos
uma assessoria do plano de saúde que também nos orienta sobre o que fazer ou
não, e já estava previsto que as festas de final de ano trariam esse cenário de
aumento de casos dos vírus circulando. Então, preferimos nos precaver e
interromper o modelo, pensando sempre em um dos pilares da nossa instituição,
que é o bem-estar do funcionário”, explica Bertoldi. Agora, o modelo híbrido
foi interrompido e não tem nem data para voltar novamente. O banco segue
monitorando a situação da pandemia para retomar sua estratégia.
Para Paulo, essas
mudanças impactam diretamente os modelos de liderança e de estratégia de cada
empresa. “Precisamos aprender a trabalhar com prejuízo, pois não há uma solução
perfeita. Há muitas pessoas que não conhecem pessoalmente os integrantes da sua
equipe e isso permanecerá assim por enquanto”.
MDS BRASIL ADIOU O
RETORNO AO MODELO HÍBRIDO DE TRABALHO
Já a ideia inicial da
MDS Brasil, uma das principais corretoras de seguros do país, com o aumento da
curva de contágios no final do ano, o seu RH determinou que houvesse um retorno
gradual. O plano seria o sistema híbrido, 3 vezes por semana no escritório e 2
dias em home office. ”Antes da volta dos novos casos, a ideia era que 70% das
posições fossem preenchidas”, explica Luciana Lopardo, diretora de RH da
empresa.
A empresa conta com um
comitê de saúde composto por áreas distintas onde, em seu corpo de colaboradores,
há também profissionais da área médica e é dividido em duas frentes: uma com
olhar mais técnico, e outra com olhar interno. A equipe técnica é formada por
lideranças que trazem as percepções das equipes frente às questões. Já a equipe
de assuntos internos realiza estudos e levantamentos para verificar se faz
sentido voltar presencialmente ou não, além de monitorar, em parceria com
colaboradores (hospitais, por exemplo) como estão as demandas: se estão
diminuindo ou aumentando as entradas aos prontos socorros, entre outras ações.
Mesmo com esse retorno
adiado, Luciana afirma que a empresa já está preparada para a volta: “nosso
comitê de saúde já preparou algumas ações de qualidade de vida como os kits de
formalização ao híbrido, entre outras. A MDS vem acompanhando a ‘curva’ e
diante destes índices, vimos que ainda não seria o momento ideal para voltar.
Agora, estamos monitorando constantemente e quando diminuírem os índices
consideravelmente, e as pessoas sentirem-se confortáveis em retornar, poderemos
iniciar de forma híbrida”, diz.
O especialista da ABRH
explica que os modelos de trabalhos estão totalmente associados aos desempenhos
e resultados das empresas. “É indiscutível que existe uma produtividade que vem
da interação social e presencial, de estar em volta de uma mesa com o mesmo
propósito e valores. Isso nós vamos demorar um pouco mais para alcançar
novamente. Mas não enxergo isso como prejuízo, porque nós já aprendemos a lidar
com este cenário e algumas empresas até concluíram que não tiveram sua
produtividade impactada, porque foram substituídas por outras, como não perder
horas em um engarrafamento”.
Diversas ações foram
criadas pelo Banco Toyota, por exemplo, para que o home office fosse possível,
produtivo e seguro para seus funcionários, como programas de treinamentos,
disponibilização de recursos de tecnologia para comunicação como notebooks,
monitores, teclados, fones de ouvido, além de itens para garantir a ergonomia
no trabalho, como cadeiras, apoio para pés e suporte para computador,
garantindo o máximo de conforto na rotina dos profissionais. O Banco também
garante um valor em dinheiro para cobrir qualquer outro custo que o colaborador
tenha. Como resultado, a produtividade das equipes aumentou e, em 2021, o banco
bateu seu recorde de faturamento no Brasil.
Teresa ressalta ainda
que o comunicado enviado internamente informa a suspensão das idas ao
escritório por tempo indeterminado, mas reforça que tudo será reavaliado assim
que possível. “O modelo híbrido, em comparação ao 100% home office, nos ajuda a
manter a cultura da empresa viva e isso é excelente para ambos os lados. O
Banco Toyota certamente vai adotar esse modelo como política daqui para
frente”.
Para Paulo, por enquanto, será mais do mesmo até que a retomada seja possível. “Até porque, pode ser que daqui a alguns meses consigamos retomar o presencial e uma semana depois todos devam voltar para suas casas. Os médicos estão em busca de novas informações, mas todos os indicadores são incertos. Então, a grande questão daqui para frente é: como se preparar com tantas incertezas? Como vamos nos preparar para o que nós não sabemos e ainda não aconteceu”?
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