Como a falta de adaptabilidade às novas configurações de trabalho estão afetando a retenção de profissionais da área de tecnologia?
A alta demanda do mercado por mão de
obra qualificada na área de tecnologia e a dificuldade de reter talentos no
setor têm causado um turnover com grande impacto dentro
das empresas. O segmento de tecnologia é um dos que mais crescem no Brasil e no
mundo e, com isso, a procura por profissionais qualificados aumenta
diariamente. Atualmente, existem mais vagas no mercado de TI do que
profissionais qualificados para ocupá-las e esse déficit de profissionais da
área de tecnologia pode chegar a 260 mil até 2024, de acordo com o relatório da
Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.
Reter esses talentos diante de um
cenário aquecido de oportunidades, tanto no mercado nacional como no
internacional, é um verdadeiro desafio que nos induz a reflexões que implicam
no entendimento sobre o fit cultural que está sendo vivenciado e consolidado
dentro do ambiente de trabalho desses profissionais. O estudo Decoding
Digital Talent, conduzido pelo Boston Consulting Group (BCG) e a The
Network, aponta que 93% dos funcionários de tecnologia de empresas
latino-americanas entrevistados esperam trocar de empresa nos próximos dois ou
três anos. Além disso, 64% já buscam ativamente por novos empregos.
Os dados preocupantes sobre esse setor
crucial para o desenvolvimento mercadológico da América Latina elucidam um
cenário que demanda atenção. Entre os principais influenciadores para essa
necessidade de mudança estão a busca por um novo desafio (70%), a oportunidade
de progredir na carreira (53%) e o sentimento de desvalorização dentro das
companhias (51%). Para manter um bom profissional é preciso oferecer boas
oportunidades, além de acompanhar as novas necessidades e configurações de
trabalho contemporâneas.
A pandemia, por exemplo, foi uma
grande propulsora para a difusão do conceito de home office e modelo de
trabalho híbrido. Ainda de acordo com o estudo, 100% dos respondentes ficariam
satisfeitos de atuar ao menos um dia na semana de forma remota, com um desejo
pela flexibilização dos horários e a possibilidade de não ter um turno
definido. O período de isolamento ressignificou a forma como as pessoas lidam
com o trabalho. Agora, esses aspectos ganham mais destaque e o salário nem
sempre é o ponto mais relevante na hora da escolha por uma vaga.
Por estes motivos, é importante que as
empresas atualizem os seus modelos de contratação e sua cultura empresarial.
Além da remuneração, é preciso investir na qualificação do profissional,
estabelecer planos de carreira bem definidos e políticas de integração entre as
equipes que favoreçam a construção de um relacionamento saudável entre os
funcionários. Para evitar esse movimento de transição é preciso que o
profissional tenha oportunidade de crescimento e, sobretudo, a sensação de
pertencimento.
Com a baixa adesão às evoluções e
condições de trabalho, sofremos com a importação da mão de obra brasileira. Em
2018, 55% dos profissionais de tecnologia estavam dispostos a migrar para outro
país para trabalhar, hoje esse número subiu para 67%. O profissional
brasileiro, em geral, costuma despertar o interesse das multinacionais. Isso
acontece por conta da produtividade e resolutividade que faz parte da rotina
desses especialistas que tendem a ser versáteis e adaptáveis ao trabalho em
equipe. Por isso, é imprescindível que as empresas brasileiras invistam de
forma assídua na valorização desse tipo de serviço para alcançarmos maiores
índices de retenção profissional.
Para os próximos anos, essa mudança
deve continuar e ganhar ainda mais força. Talvez estejamos olhando, neste
início de década, para uma transformação que irá impactar toda a noção de
trabalho que vínhamos construindo ao longo dos anos. É comum que as
empresas e profissionais busquem fórmulas mirabolantes para resolver questões
de impacto, mas, na realidade, a solução pode estar em olhar para dentro. Neste
caso, para as oportunidades de crescer formando talentos.
Conforme defendia o filósofo grego
Platão, a coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer
do seu próprio conhecimento. Por isso, cabe às empresas entenderem,
incentivarem e viabilizarem o desenvolvimento profissional e pessoal de seus
funcionários, de forma que eles sintam que os seus talentos e esforços estão
sendo bem empregados e aproveitados na companhia. Dessa forma, construiremos
relações de trabalho mais saudáveis, mão de obra mais qualificada e um país com
maior potencial de desenvolvimento tecnológico.
*José
Messias Júnior é CEO da Cubos Academy
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